terça-feira, 6 de outubro de 2009

Geração de Empregos no Brasil

Geração de Empregos no Brasil
Naércio Menezes Filho
Antes da crise chegar, o mercado de trabalho brasileiro vinha tendo um desempenho exuberante em várias dimensões. A taxa de desemprego, por exemplo, que cresceu de 4% em 1985 para 11% em 2003, passou a declinar continuamente desde então, chegando a 9% em 2007. Nas regiões metropolitanas, o desemprego passou de 11% em Dezembro de 2003 para 6,8% em Dezembro de 2008. O mesmo aconteceu com outros indicadores do mercado de trabalho, como a taxa de informalidade, a desigualdade e o salário real médio. Como explicar o comportamento do mercado de trabalho neste período? Que previsões podem ser feita para o período pós-crise?

O comportamento do desemprego está intimamente ligado ao processo de geração e destruição de postos de trabalho. Todos os anos milhões de novos empregos são gerados pelo crescimento e surgimento de novas empresas e outros tantos são destruídos por firmas que encolhem ou desaparecem do mercado. Em 2007, por exemplo, 20 milhões de empregos formais foram gerados e 17 milhões foram destruídos. Obviamente, o crescimento do nível de emprego só ocorre quando há geração líquida de empregos, ou seja, quando a criação supera a destruição.

O que ocorreu com o processo de geração de empregos nas últimas décadas? A figura ao lado mostra a evolução da geração líquida de postos de trabalho formais entre 1985 e 2007 na agricultura, indústria e no setor de serviços. Podemos notar, em primeiro lugar, que a agricultura não gerou praticamente nenhum emprego líquido em todo este período. Toda a contribuição da agricultura para o crescimento econômico deu-se através do crescimento da produtividade, ou seja, progresso tecnológico com nível de emprego constante. O desempenho da indústria foi pífio até 2000, mas, desde então vem tendo uma participação crescente, chegando a gerar 1 milhão de empregos líquidos em 2007. Mas o setor que mais contribuiu para o surgimento de novos postos de trabalho no Brasil foi o de serviços (setor público, comércio, profissionais liberais). Desde 1992 há criação líquida de empregos neste setor, que chegou a gerar 2 milhões de empregos em 2007. Isto explica a composição setorial do emprego no Brasil atual. Em 2007, 64% de todos os trabalhadores estavam empregados no setor de serviços, 23% na indústria e apenas 13% na agricultura!

Em termos globais, a economia formal brasileira só começou a gerar empregos formais liquidamente a partir de 1999. Isto explica o comportamento do desemprego e da informalidade no período anterior. Com mais de 1 milhão de pessoas chegando ao mercado de trabalho todos os anos, o processo de destruição líquida de empregos que ocorreu entre 1990 e 1998 fez o desemprego crescer continuamente neste período. Interessante notar que a taxa de desemprego cresceu principalmente entre os jovens, chegando a atingir 20% em 2003. Além disto, a informalidade cresceu de 50% para 53% da força de trabalho nos anos 90, passando a declinar nos anos recentes até atingir 47% em 2007.
Em suma, para entendermos o comportamento dos indicadores do mercado de trabalho, temos que entender o processo que determina a criação e a destruição de postos. Por que será que nas décadas de 80 e 90 o crescimento econômico não gerou empregos? Como este foi um período com inflação alta e crescente, economia fechada, mão de obra não qualificada e custos trabalhistas elevados, as firmas evitavam contratar formalmente a todo custo, adotando uma postura defensiva no mercado de trabalho. A partir de meados da década de 90, com a inflação controlada e as reformas liberalizantes da economia, o mercado de trabalho passou a funcionar de forma mais fluida, não sem antes passar por um duro período de ajuste, que durou até 1999. O avanço educacional, que teve início no final dos anos 90, era o que faltava para a economia entrar novamente num círculo virtuoso de crescimento com geração de empregos, que atualmente depende de novas idéias e tecnologias para conquistar mercados.
Será que a crise atual colocará todo este esforço de ajustamento, que demorou praticamente 10 anos, a perder em apenas 1 ano, levando a taxa de desemprego de volta para os 11% de 2003? Parece improvável, especialmente se acreditarmos que as reformas implementadas não serão revertidas. Mais reformas (como a trabalhista e a tributária) ajudariam, mas é difícil acreditar que elas ocorrerão no médio prazo.





Fonte: RAIS – Ministério do Trabalho

SIRLENE DE O. C. MACHADO NR. 31

0 comentários: